quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Lentes de amor

A paz de um fim de tarde,
Pássaros narrando o horizonte lilás,
A inconfundível melodia do encontro do último fio de água salgada, com o último fio de areia...
A voz dos ventos nos cabelos,
Os pés marcados de chão,
A nobre solidão no cosmos,
Acordes do pensamento,
Somente uma explicação:
Há lentes de amor diante da minha visão!



quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Enquanto uma folha cai

Enquanto uma folha cai do alto do acaso,
Penso no tempo e na sorte e na vida e na morte.
Penso que tudo é tempo,
Os dias sem você e os dias com você,
O tempo em que eu não sabia a tua existência
E nesse futuro de agora em que eu te sei no mundo.
Tudo é do balaio das horas,
Eu crio e recrio o agora, para te acessar,
Para obter de ti os minutos.
Enquanto uma folha cai,
Eu penso que nada a faz parar
E abdico assim do medo do que não fica,
Do efêmero e improvável destino das coisas.
Que se dane esse destino e que ele caia como as folhas,
A vida se inventa num instante!
Enquanto uma folha cai,
Muitos não a vêem em seu movimento,
Muitos não beberão desta beleza de segundo,
Que acontece por pura ação do tempo.
Assim como muitos não provarão teus beijos,
Teu sexo e a nossa falta de nexo.
No reduto do agora se dá o amor que inventamos,
E quem ousará dizer que não?
Eu leio os teus olhos como quem lê a folha que cai
- Sei do meu lugar em você -
E enquanto ela cai, eu penso nisso tudo:
Em nós que nos amamos de um amor gigante e instável,
No que não tem chão e nas dores do eminente Não,
E nesse hoje onde construo o nosso castelo!
Daqui a um segundo não sei mais o que quero.
E enquanto uma folha cai, eu te espero.